A imagem acima é um recorte da obra Le Moulin de la Galette, do artista francês Pierre-Auguste Renoir.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um pouco sobre arte nos anos 60 e 70

Olá pessoal,
gostaria de deixar aqui um artigo interessante sobre a arte nos anos 60 e 70 no Brasil,
espero que gostem e façam bom proveito!!!

Seguindo a tendência nacional “ referindo-se à busca de uma identidade brasileira através de cores, temáticas, como buscava o modernismo antropofágico iniciado nos anos 20”, vai assim aos poucos se enfraquecendo, enquanto aumenta o número de artistas abstratos. O resultado do crescimento da arte abstrata no Brasil foi marcante. Nos anos 50 vimos o movimento de arte concreto e neoconcreto que resultaram em uma linhagem artística madura.
De maneira geral, o concretismo/neoconcretismo, na arte, é a promessa da construção do novo. Prega uma linguagem universal, livre de contextos específicos, e livre de um excesso de subjetividade e emotividade. Libera a arte de questões externas e ela mesma, estabelecendo sua autonomia e suas necessidades formais e construtivas. É um fato histórico que o neoconcretismo foi o último movimento plástico de tendência construtiva no país e que, inevitavelmente, encerrou um ciclo,“sonho construtivo” brasileiro com estratégia cultural organizada.
Decorrente do contexto acima citado chegamos nos contornos dos anos 60/70. Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, alguns artistas deixaram de lado a relação que se fazia entre arte e objeto estético concebido dentro de padrões acadêmicos pré-estabelecidos, se propuseram a desenvolver trabalhos em que o artista não mais operava dentro da necessidade de produção de objetos únicos e concebidos para realçar sua "genialidade” .
Nota-se então novas propostas nas obras do artista, em vez de continuar circunscrito ao universo do "belo", passa a operar em relação a outras demandas socioculturais. Isto foi mais importante do que seguir as preocupações estéticas, começa a surgir o imperativo de posicionar-se claramente em relação às diversas instâncias sociais, utilizaram objetos e procedimentos totalmente fora do universo artístico estabelecido.
Toda uma liberdade clamada pela obra de arte ganha novos contornos com a arte conceitual. Ali, materiais precários e muitas vezes efêmeros anunciam a possibilidade de a arte se desgarrar de aspectos mais objetuais, coisificados e particularmente mercadológicos, para exercer papéis sociais e políticos.
Atuando sob o regime militar, artistas criaram estratégias simbólicas e metafóricas para penetrar o cerco à liberdade de expressão, acusar a mercantilização da arte, apontar para a necessidade de interação pública/espectador, denunciar o aburguesamento social, comentar a evanescência da arte e a fragilidade da vida.
Os anos 60 e 70 foram anos agitados pelo processo de ditadura militar, o qual o Brasil passava. Havia muita perseguição qualquer manifestação artística era geralmente interpretada como subversão, Artur Barrio, Cildo Meirelis, pela sua ideologia aproveita para realizar um trabalho inédito.

Alguns artistas:

Artur Barrio :
( Porto, 1946) é um artista plástico português que vive no Rio de Janeiro desde 1955
Ingressou na Escola de Belas Artes em 1967 e foi um dos primeiros artistas a realizar gigantescas instalações com composições caóticas, onde misturava múltiplos elementos


Em 1969, começa a criar obras inusitadas como: trabalhos de grande impacto, realizados com materiais orgânicos como lixo, papel higiênico, detritos humanos e carne putrefata como as Trouxas carregadas de sangue com os quais realiza intervenções no espaço urbano.
Nos anos 70, ele espalhou trouxas ensangüentadas pelo Rio de Janeiro e por Belo Horizonte em uma ação clara contra a ditadura. Barrio nos prova, de forma sempre muito radical, que uma obra de arte pode renunciar ao mercado.
Seu trabalho foi realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 20 de abril de 1970. O local foi um rio/esgoto, colocação de 14 T.E, Parque Municipal.
Uma platéia de, aproximadamente 5.000 pessoas. este trabalho (colocação das T.E.no local) teve início pela manhã, sendo que as cenas registradas comentam visualmente o que aconteceu a partir das 15 horas com a participação popular e mais tarde com a intervenção em princípio da polícia e logo após do corpo de bombeiros.


Para o artista carne foi um elemento de protesto e manifestação de idéias e ideais,

..
Artur Barrio
...Situação ...Ossos ...Sacos ...Ossos1970


Cildo Meireles:
Outro artista foi Cildo Meireles é um artista conceitual com uma reputação internacional, que cria os objetos e as instalações que acoplam diretamente o visor em uma experiência sensorial completa, questionando, entre outros temas, o regime militar brasileiro (1964 - 1984) e a dependência do país na economia global. Cildo Meireles


As escritas nas garrafas dizem: Cildo Meireles Inserções em Circuitos Ideológicos - Projeto Coca-Cola, 1971.

Os objetos e instalações atmosféricas de Cildo Meireles, do final da década de 1960. O artista sempre lançou mão de objetos do cotidiano fabricados, eletrônicos para criar seus trabalhos. Uma coluna feita de rádios que funcionam, ou garrafas, móveis, decorações etc.


Cildo Meireles, Inserções em circuitos ideológicos Projeto Cédula, 1970.
Carimbo sobre papel moeda com a pergunta “Quem matou Herzog?”

Outra obra foi desvio ao vermelho, uma instalação que reproduziu um ambiente de uma casa. Abaixo um foco da obra. Sobre a obra diz Cildo: "Gosto de pensar a arte em termos que não estão limitados ao visual".


Parte da Instalação "Desvio ao vermelho" de Cildo Meireles, parte da exposição do artista brasileiro no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (Macba), Espanha

Antônio Henrique Amaral:
Um tributo a Herzog
Antônio Henrique do Amaral foi um dos artistas que se preocupou em levar para sua obra o tema do assassinato de Herzog nas prisões militares. Dentro do quadro das obras que denunciavam a tortura, Amaral retoma de forma agressiva a representação da violência militar na série de quatro obras.


Vamos pensar duas dessas obras A morte no sábado – tributo a Wladimir Herzog, de 1975 e Ainda a morte no sábado, de 1976.Na tela A morte no sábado – tributo a Valdimir Herzog (fig. 58), sobre um fundo negro, como que um corpo manchado por pancadas, aparece em cores vermelhas, amarelas e brancas, uma espécie de representação das vísceras sendo perfuradas por quatro garfos.
Aqui Amaral retoma a oposição entre formas orgânicas e metálicas num jogo de violência que é acentuada pelo fundo escuro. Como sugere o título, estamos diante da morte de um personagem da história da repressão política do período militar: Wladimir Herzog. Embora tenha sido dado por suicida, fica claro nesta tela a intenção de denunciar a causa da morte de Herzog como resultado das torturas que sofreu nos porões de uma prisão militar.
Como numa espécie de “troféu da repressão, garfos erguem o corpo reduzido a um monte de carne ensangüentada”. É visível a tentativa do artista em mostrar que o que está sendo perfurado é um corpo. Peles se abrem para fora, depois de rasgadas; veias surgem em meio ao amontoado de gorduras e tripas. A tonalidade vermelha predomina, nos fazendo imaginar órgãos sujos de sangue. O contraste, produzido pelo encontro do metal com a carne, reforça a
violência da cena. Numa espécie de grande zoom podemos ver de perto o estrago que se produz. Numa espécie de alegoria sobre a morte de Herzog, revela-se,afinal, a causa de sua morte: a tortura.

Em outra obra, da mesma série, denominada Ainda a Morte no Sábado, de 1976, Amaral explicita, mais uma vez, o contraste entre metais e vísceras. Dessa vez, introduzindo um novo elemento que acompanha e ajuda o garfo a perfurar a carne: uma espécie de “coroa de Cristo” – mais um dos instrumentos de tortura usados durante o regime militar. Esse instrumento era colocado sobre a cabeça da vítima e fortemente pressionado, produzindo ferimentos e dores de cabeça terríveis – o objetivo era obter confissões forças e delações.
Na tela o contraste se acentua com o fundo vermelho, também característica de corpos machucados por espancamentos, e vísceras e instrumentos metálicos claros. Gorduras brancas abundam ao lado de vísceras,
sendo todas ultrapassadas de alguma forma pelos instrumentos metálicos.
Novamente Amaral faz uso do recurso de aproximar ao máximo o acontecimento,num zoom que privilegia a violência dos metais contra a carne desfigurada.
O título da tela faz referência a um dos dias da semana: sábado. É o dia da prisão de Herzog e de sua provável morte. É um dado que unido à representação das vísceras procura denunciar o assassinato de Vladimir Herzog.
Em depoimento de 1986, Antônio Henrique Amaral deixa claro sua
intenção de denúncia política na criação das obras que surgiram logo após o golpe militar: “Meu trabalho tornou-se francamente descritivo a partir do golpe militar de 64 (...) Eu acho que todo trabalho de arte tem uma relação política, a atividade artística é uma atividade política. No meu caso, eu fiquei francamente explícito. Eu fiz questão de me tornar quase panfletário. (...) principalmente na série das gravuras dos militares.


Referência

CAVALCANTI, Jardel Dias. Artes Plásticas: Vanguarda e Participação Política (Brasil anos 60 e 70). Campinas: 2005. (Tese de Doutorado – Unicamp).


Webgrafia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cildo_Meireles acessado em 05/06/2009.
http://www.muvi.advant.com.br/artistas/a/artur_barrio/ossos.htm

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